Fernando Cunha
Há pouco mais de um ano a troca de área da prefeitura com o Jockey foi aprovada.
Em novembro de 2011 foi aprovada a proposta da prefeitura que previa que uma área na Avenida Diário de Notícias, de cerca de 12 mil metros quadrados, seria trocada por um terreno de 22,6 mil metros quadrados do Jockey, no cruzamento das avenidas Icaraí e Chuí. O Jockey, que teria de alterar o traçado da pista de corrida, concordou com a troca.
Conforme o Executivo, na área que receberá do Jockey a prefeitura realizará dois projetos: um terminal de transporte coletivo e a construção de uma rotatória junto às avenidas Icaraí e Chuí prevista no projeto de duplicação da avenida Tronco.
Pelo projeto que tramita na Câmara, a administração municipal não teria prejuízo em abrir mão do terreno em frente ao Guaíba, ao lado da Estação de Bombeamento de Esgoto (EBE) do Departamento Municipal de Água e Esgotos (Dmae). As duas áreas foram avaliadas em valores semelhantes pela Secretaria Municipal da Fazenda - cerca de R$ 11 milhões.
Na época, moradores do bairro Cristal realizaram diversos protestos, se posicionando contra a medida. Segundo o presidente da Associação de Moradores do Bairro Cristal, Renato Maia, “o interesse por trás de tudo isso está na especulação imobiliária. O terreno que será doado ao Jockey vai ser arrendado para construtoras edificarem torres gigantes na beira do Guaíba”, apontou, em 2011.
Um ano após a decisão, as obras ainda estão engatinhando, mas a posição dos moradores continua escrita no muro da praça, localizada na Avenida Chuí: “O NOSSO BAIRRO NÃO ESTÁ À VENDA!”. Agora, resta esperar para saber como serão os próximos meses de obras no bairro até a Copa do Mundo de 2014.
Ao longo desses meses, a repercussão da frase, escrita no muro da Praça José Alexandre Záchia, na avenida Chuí, foi grande, afinal todos que passam pela praça se perguntam: “quem escreveu aquela frase?”.
No final de novembro, conversei com integrantes do grupo Levante Popular da Juventude, responsável pelo ato no muro da Praça, no bairro Cristal, confira a entrevista:
Fernando Cunha: Sobre o texto acima, vocês partem da mesma idéia da Associação de Moradores do Cristal para terem realizado o ato?
Lúcio Centeno: Realmente o muralismo foi feito em abril de 2011 pelo Levante Popular da Juventude. Nossa organização é constituída por grupos de jovens que atuam tanto no meio estudantil, quanto no meio popular na defesa dos direitos da Juventude. Temos um grupo organizado nesta região da Cruzeiro/ Cristal que está sendo diretamente atingido por esta política de "higienização" deste território. Por isto, fizemos o muralismo. Concordamos com a afirmação do Renato Maia.
Fernando: A maneira correta que vocês chamam o ato é “muralismo”, isso?
Carlos Alberto: Sim. É uma técnica de pintura de origem mexicana, que se espalhou por vários países da América Latina.
Fernando: Por que realizaram o ato de muralismo na praça do Cristal?
Carlos: Conforme o relato do Renato Maia, a área do antigo Jokey está sendo alvo dos grandes barões do concreto (Grandes Empreiteiras) que veem naquela área a possibilidade de erguerem torres milionárias como é o caso da torre de cristal erguida no terreno do Barra Shopping . Ao mesmo tempo, perto deste terreno há uma demanda habitacional por parte de famílias que serão desapropriadas e terão que sair de suas casa para a construção da nova Avenida Tronco/Cruzeiro que será duplicada. As mais de 1500 famílias que serão despejadas não tem nem apontado a área que serão reassentadas. A prefeitura tem se utilizado do Bônus Moradia e do Aluguel Social que nada mais são do que uma forma de despejo velado.
Fernando: Qual era o objetivo de vocês? O que pretendiam atingir?
Carlos: O nosso objetivo era exatamente esse de passar para quem lê-se que o nosso bairro não está a venda. Neste caso a prefeitura está "vendendo" o bairro para grandes empreiteiras. O bairro foi construído por quem mora a mais de 30, 50 anos ali e não é justo agora que estamos passando por esse processo de reurbanização que não nos deixem usufruir os benefícios dessa reurbanização.
Fernando: O ato foi isolado, digo pensando e executado exclusivamente por vocês ou existiu algum apoio de associação de moradores ou comunidade?
Carlos: O ato foi pensado e executado numa oficina realizada pelo Levante durante a atividade chamada "A volta do povo à praça" realizada pelo Ponto de Cultura Quilombo do Sopapo. Uma atividade que tem como proposta ocupar espaços públicos da cidade como por exemplo a Praça José Alexandre Záchia.
Fernando: Explique, por favor, o que é e o q faz o Levante Popular da Juventude, qual a função de vocês? Quais objetivos?
Carlos: O Levante Popular da Juventude é um movimento social formado por jovens do campo da cidade e de periferia. Nosso objetivo é organizar os jovens, para que possam lutar e garantir seus direitos e conquistar novos direitos que lhes são negados pelo Estado, na perspectiva da construção de um Projeto Popular para o Brasil.
Carlos: O Levante tem como dever garantir e defender os interesses da Juventude. Estivemos desde 2006 defendendo a ampliação do acesso ao Ensino Superior para os jovens pobres e negros, através da implementação das Cotas. Estivemos protagonizando mais recentemente a ação de escracho aos torturadores da Ditadura. No próximo período estaremos construindo um Projeto Popular para a Educação, para que todo e qualquer jovem tenha direito a uma educação adequada.
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